[crônica] Coleção de tentativas



Atire a primeira pedra quem nunca fez coisas ruins. Não estou me referindo ao contrário de bondade. O texto não tem nada a ver com caráter: quem é mau, quem é bom ou quem fica em cima do muro sem saber se vira anjinho ou capeta. Refiro-me às inúmeras tentativas que colecionamos em nosso histórico como sobreviventes dessa loucura toda que é a vida terrestre. Se existe vida em outros planetas, certamente os ETs devem rir de nós,  pensando no nosso amadorismo e em nossas trapalhadas, afinal, colecionamos mais erros do que acertos, não é mesmo? Oras bolas, que riam até a barriga doer! 

Sabe aquele primeiro arroz que você fez? Ruim demais! E aquela lição de matemática que você se esforçou tanto para fazer e chorou quando o professor esfregou a nota na sua cara?  Igualmente ruim! E aquelas cartas de amor que você tentou escrever para o seu amor platônico? Até hoje você se lembra das inúmeras bolinhas de papel que você arremessou desvairadamente ao seu redor, em um acesso de desespero de dar dó, deixando o seu quarto ruim demais para caminhar... Aí sua mãe entrou no seu universo particular  e mal conseguiu chegar até você porque as bolinhas de papel poluíram tudo e ela quase tropeçou. A bela intrusa chamada " Mãe" entra e te faz sentir um completo idiota apaixonado. "Por que eu não tranquei a porta?", você se pergunta. E para a sua surpresa, ela te olha em silêncio e sai. Ela provavelmente não deve ter entendido nada ou deve ter entendido tudo. Nós subestimamos as mães. Muitas vezes elas se calam para que possamos viver sozinhos aquilo que precisamos viver sem interferências. Há coisas que não precisam ser ditas. Há coisas que precisam ser resolvidas apenas pelo nosso coração e por ninguém mais. 

As pessoas não possuem o hábito de refletir sobre como as coisas ruins fazem parte do processo de aprendizado de suas vidas.  Às vezes, a gente precisa fazer coisas ruins pra ter resultados bons. Só que na ânsia de acertar, não valorizamos os tropeços e os resultados ruins. E por que valorizá-los? Simplesmente porque eles representam a nossa trajetória, a construção do  que somos hoje, do que queremos e do que podemos ser no futuro. Já parou para pensar se a vida fosse feita somente de acertos? Será que existiria o sabor da vitória? Os nossos tropeços nos colocam cara a cara com o que somos. É uma oportunidade que a vida nos dá para olharmos no espelho e analisarmos como as coisas estão indo.  

Colecionamos coisas ruins, desde aquela letra espalhafatosa da pré-escola até aquela maquiagem feita às pressas porque o seu filho te puxou para brincar e você pensou "A vaidade pode esperar, agora vou dar atenção para o meu filho".  E se existisse uma caixa para guardamos nossa coleção de tentativas, como ela seria? Ah, tenho certeza que essa caixa seria rica em detalhes e arrancaria sorrisos se pudéssemos apreciá-la sem julgamentos, sem separar os conteúdos em "isso vai para a gaveta do que é certo" e "isso vai para a gaveta do que é errado". Não precisamos criar categorias porque nossa coleção de tentativas mescla o certo e o errado no mesmo balaio. Pelo menos houve a tentativa, não é mesmo?  Não se julgue tanto e não se sinta horrível porque os resultados não foram bons. Como você poderia adivinhar? Livre-se desse peso terrível que é se achar a pior pessoa do mundo pelas escolhas feitas e tentativas mal sucedidas. Aprenda a observar o seu próprio corpo e ressignifique sua vida. Por quê? 


Porque o corpo fala. Pode parecer estranho, mas as respostas que precisamos, muitas vezes, aparecem como sintomas. Aquela dor de cabeça insuportável sempre que você tem que acordar cedo para trabalhar naquele emprego detestável, aquela dor abdominal que não passa sempre que você se estressa com algo ou alguém,  aquele mau humor que avassala sua vida depois de uma semana turbulenta e tantas outras situações que não caberiam aqui. O fato é que ignoramos os sinais do corpo. E às vezes do coração também! Por que não nos atentamos a essas coisas ruins que nos assolam e que podem nos levar a momentos de reflexão para um bem maior? Comodismo? Medo de largar o certo pelo duvidoso? Medo da vida ou de enfrentarmos nossos próprios dilemas? 

E vamos adiando... E o corpo continua falando... Primeiro ele sussurra em nossos ouvidos! Esses primeiros sinais são tão suaves que nem os notamos. Depois do sussurro, vem uma fala insistente em forma de sintomas que vem e vão. Continuamos a ignorar, só que o corpo sofre as mazelas dessa linguagem. Por quê? Simplesmente porque depois da fala vem o grito. Sim, o corpo se desespera e grita porque precisa de mudanças e/ou cuidados de forma urgente. Você é capaz de ouvir? Ou está cego(a) diante de si mesmo(a)? Esses gritos são o desespero da alma que saltaram para fora em forma de doenças. Não percebemos que a alma está falando através do corpo. Achamos que o corpo está doente por acaso, mas ele suportou demais nossas negligências, aguentou tanto que chegou o momento de explodir.  Agora é hora de você se comunicar com você mesmo(a). Olhe-se no espelho e busque as respostas que tanto precisa analisando-se, amando-se e principalmente, reconstruindo a própria história se a sua alma solicitar isso. 


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