Eu amo os poemas da Cecília Meireles e hoje eu resolvi interpretar um deles. Trata-se de um belíssimo poema, um verdadeiro exemplo de superação, a meu ver. Não interpretei com embasamento teórico nem detalhadamente, apenas um esboço simples do que eu entendi durante a leitura. Caso não concordem com a minha interpretação, terei o maior prazer em ler as hipóteses de vocês. Lembrando que não existe uma interpretação 100% de um poema, pois existem duas subjetividades a serem levadas em conta: a de quem leu e a de quem escreveu.
Aceitação
(Cecília Meireles)
É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens
e sentir passar as estrelas
do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos.
É mais fácil, também, debruçar os olhos no oceano
e assistir, lá no fundo, ao nascimento mudo das formas,
que desejar que apareças, criando com teu simples gesto
o sinal de uma eterna esperança.
Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do
mar, nem tu.
Desenrolei de dentro do tempo a minha canção:
não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar.
Minha interpretação
Ouvir as
nuvens e sentir as estrelas é mais fácil do que alcançar a pessoa amada na
terra. Significa que esse amor é tão impossível que é mais fácil o eu lírico
alcançar os céus do que estar na terra com o ser desejado. Observar o
fundo do oceano e suas formas é mais fácil do que desejar que o ser amado apareça em sua frente. Resumindo: um amor impossível! E, geralmente, quando há ilusão, qualquer gesto da pessoa amada cria falsas
esperanças, gerando angústias. Vale a pena uma vida inteira repleta de angústias por um amor não correspondido?
O eu lírico percebe que não vale a pena e aceita que existe uma situação angustiante e é hora de transformá-la: não interessam mais as estrelas, nem as formas do mar nem a pessoa
amada, pois aceita que esse amor é
uma ilusão, desejo impossível de ser realizado. Ter consciência da situação é o primeiro passo para a transformação, então é preciso lutar para esquecer esse amor. Uma luta nada fácil, porém necessária. Como lutar? O eu lírico escolhe a música para extravasar a sua dor, uma válvula de escape que o ajuda a sentir prazer durante a tentativa de esquecer o ser amado. E a canção surge como doce solução
para tirar a amargura do ser, para desiludir-se e para libertar-se desse amor. Não tem inveja das cigarras, pois também
deseja morrer de cantar, mas não no sentido negativo da palavra "morte". Quer dizer que passará toda a sua existência cantando. (a comparação com as cigarras ocorre porque há uma lenda que diz que as cigarras explodem de tanto cantar)
Enfim, o eu lírico percebe que a felicidade está dentro de si mesmo, em sua “própria canção”, ou seja, no encontro com sua própria essência, com a musicalidade de seu ser. Percebe que a felicidade não está no outro, mas dentro de si mesmo... Essa constatação é uma libertação, pois não dependerá de mais ninguém para ser feliz. Percebe, então, que o outro é apenas o complemento da sua felicidade.
Enfim, o eu lírico percebe que a felicidade está dentro de si mesmo, em sua “própria canção”, ou seja, no encontro com sua própria essência, com a musicalidade de seu ser. Percebe que a felicidade não está no outro, mas dentro de si mesmo... Essa constatação é uma libertação, pois não dependerá de mais ninguém para ser feliz. Percebe, então, que o outro é apenas o complemento da sua felicidade.
Obrigada por compartilhar essa reflexão. Lindo!
ResponderExcluirPerfeita análise
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