Carta para o meu eu do passado

São Paulo, 27 de agosto de 2015

Querida Ana Paula do passado,

Olá, tudo bem com você aí no passado? Hoje acordei nostálgica e resolvi mergulhar no túnel do tempo para te dar um oi especial (daqueles que são ditos não apenas com a boca, mas com toda a alma). É como se o meu eu de hoje desejasse ultrapassar as barreiras do tempo para aconselhar, consolar e olhar olho no olho para o meu eu do passado. E sinto que essa carta funcionará como um calmante para mim.

Saudades eternas dos milhares de fragmentos de mim mesma anos atrás... São tantos pensamentos  soltos e empoeirados, tantas memórias perdidas... algumas  agridoces, outras docemente perfumadas e tão  nítidas que parecem boiar agora mesmo no riacho dos meus pensamentos atuais... Momentos que guardo na tela da minha mente (simplesmente  não dou conta de reprisar todo o material)

Não espere que eu encha a sua cara de bofetadas pelos erros do passado. Também não espere que eu a abrace como uma mãe e fale doçuras em seu ouvido. Falarei com toda a serenidade possível, com todo o respeito que tenho pelo meu eu  do passado, sem culpá-la pelas coisas que não conseguiu para nós duas. É apenas uma conversa necessária, plena e terapêutica, pois sabemos que o  passado jamais será mudado a partir dessa carta. Talvez o meu presente receba um chacoalhão dessas linhas todas, será?

Na verdade você sempre quis  que as pessoas  entendessem o seu enigma sem que você precisasse dizer uma só palavra. Para você era tudo tão simples (e  mágico ao mesmo tempo) que não era possível que as pessoas não pudessem notar. Era a sua  necessidade de pensar além, de tocar os sonhos, de sentir a poesia da vida, de tocar as nuvens com os sonhos, de sorrir para o nada, de chorar a fim de sentir a tontura da vida, de ser sensível além da conta, de ser apenas compreendida pela sua essência... Era um doce enigma: alma de poeta ultrapassando os sentidos.



Você viveu  fracassos,  sucessos,  retrocessos, amores,  desamores e  quebrou a cabeça pelos desejos ainda por vir. Mas como saber? Como prever? Você sempre se preocupou com o  sentido da vida, envolta em uma esperança que te fez bem, uma fé que te abrilhantou como ser humano. E disso eu tenho orgulho! Você nunca humilhou ninguém para se sentir importante, nunca puxou o tapete de ninguém e tudo o que conquistou  até hoje foi por mérito próprio. Sei que você poderia ter alcançado mais e mais, porém não a julgo, você fez o que estava em seu alcance e nunca é tarde para novas conquistas. Havia muitos medos, inseguranças e empecilhos do passado. Você era imatura demais para lidar com finanças, por isso nunca empreendeu, não ousou, não saiu da zona de conforto.

As suas costas eram pesadas, eu sei. Quantas pessoas você carregou nas costas, confiando nelas e de repente a falsidade veio como um golpe? Só você sabe disso, por isso não a culpo se hoje em dia você tem receios ao fazer novas amizades. Só agora eu percebo o quanto você era ingênua e ao mesmo tempo forte. Ingênua por acreditar que todos eram seus amigos e forte por ter aguentado tanta gente sem noção. É claro que nesse percurso você também encontrou pessoas maravilhosas e sinceras.

Se eu pudesse te dar um conselho diria para ligar o foda-se de vez em quando.  Isso é  tão  terapêutico, você não fazia ideia, né?  Descobri tal poder depois de adulta. Em alguns momentos seus, tenho certeza que o foda-se seria a melhor solução.

Se você  soubesse como a escrita  seria transformadora e catártica, você teria treinado mais, teria passado madrugadas em claro ouvindo Enya e canto gregoriano a fim de psicografar as próprias ideias. Sei que ficaria com olheiras fundas porque você não sossegaria até ver o final da criação, mas sairia dessa experiência satisfeita por ter cuspido as palavras,  feliz em seus próprios encantos, louca, plena e tão  feliz! Todo poeta carrega sua loucura nas malas que lhe são próprias... a mala dos sonhos... num  peso que é o  próprio delírio. Ah, essa loucura deveria ter te embriagado de prazer e feito você subir degraus mais ousados, mas como saber? Como prever? Aliás, vc ousou pouco. Se eu pudesse te dizer algo olho no olho, nesse exato momento,  te diria "Ouse mais, minha querida, prove do teu próprio veneno às vezes, seja sarcástica de vez em quando, não tenha medo de cair porque é só levantar minutos depois e seguir em frente.  Você é estonteante e poderosa, pena que só percebeu isso depois de adulta!"

Hoje você é feliz, se isso te consola. Você é mãe, encontrou o homem da sua vida e continua sendo a doce menina da poesia saltitante (e isso nunca vai mudar, já que a poesia que paira em seu ser  é a sua própria aura). As muitas frustrações do seu passado já não existem mais, algo que te aliviará ao ler essa carta, porém novos problemas surgiram e ainda perduram, o que é normal na vida de qualquer ser humano. Saiba que estou lutando por novas conquistas, novas perspectivas e que, apesar das dificuldades da vida, sou muito grata e feliz.  Sou o que sou hoje graças ao que você fez, deixou de fazer, sentiu e lutou! Parabéns por nunca ter desistido de ver beleza na vida!


Beijos de luz,

Ana Paula do presente


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Este post é uma blogagem coletiva do + QP (Mais que palavras), um grupo para nos desafiarmos quanto à escrita, estimulando a nossa criatividade. Cada blogueiro deve criar um texto seguindo o tema do mês de agosto: "Uma carta para você mesmo(a)". O tema do mês passado foi  "E se você tivesse um caderno que tudo que você escrevesse nele se tornasse realidade?" Veja aqui o post. Confira outras postagens do tema em outros blogs:



2 comentários:

  1. Uau,como você é otimista.eu queria ser assim as vezes, mas não é de meu alcance.

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    1. Olá, R. Anamy, tudo bem? Obrigada, flor! Ser otimista faz um bem danado. Você consegue sim. Pense que tudo pode melhorar, basta crer! Beijinhos

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